Inteligência Emocional: dominando a arte da política corporativa #1
Parte 1: a Inteligência Emocional e o papel do autoconhecimento para acelerar sua carreira.
Conversas no Corredor é uma newsletter em que compartilho os conselhos que eu gostaria de ter ouvido durante um café com meus gestores — diretos, práticos e longe dos manuais corporativos.
Da série: personagens que a gente encontra em toda empresa.
A analista que reclama o dia todo — do time, do chefe, da área, do clima.
O gestor que fala o que pensa na hora errada, do jeito errado, e depois se justifica com um "sou sincero mesmo".
A coordenadora que trava quando recebe um feedback, se fecha ou se defende, mesmo quando tem razão.
O colega que implica com tudo, responde atravessado, parece que está sempre em modo ataque.
Ou então, será que você já se identificou com algum desses personagens, mesmo que só por um tempo?
Esses comportamentos quase nunca têm a ver com falta de caráter ou habilidade técnica. Eles revelam outra lacuna: maturidade emocional.
Na conversa dessa semana quero propor algo novo: tangibilizar um conceito que é tão hypado e ao mesmo tempo abstrato — a Inteligência Emocional e o papel do autoconhecimento para acelerar sua carreira.
A proposta passará por uma série de artigos que vão ajudar a aprofundar o entendimento sobre cada elemento da Inteligência Emocional e trazer dicas de como desenvolvê-los na prática.
Então, pega seu café e vem comigo nessa conversa.
No cotidiano
O conceito de Inteligência Emocional no mundo corporativo foi popularizado pelo pesquisador e autor de vários livros sobre o tema: Daniel Goleman. Recomendo fortemente a leitura para se aprofundar mais no tema.
Vamos pelo começo: o que é Inteligência Emocional!?
É a habilidade de lidar com gente, começando por você mesmo.
Trata-se da capacidade de perceber o que está acontecendo dentro de você, nomear isso, entender de onde vem. E a partir daí, fazer escolhas melhores nas interações com os outros.
Essa competência tem impacto direto em praticamente tudo: foco, produtividade, qualidade das relações, tomada de decisão, sensação de bem-estar, clareza mental, reputação profissional.
Quando está ausente, percebemos seu efeito se espalhar: conflitos que escalam, mal-entendidos que viram atrito, energia drenada com ruídos desnecessários, autossabotagem em momentos críticos.
O que acontece quando você possui “alta” inteligência emocional:
Você está frustrado com uma decisão da liderança. Em vez de explodir no grupo do projeto ou descontar na reunião, você consegue parar, entender o que sentiu, refletir, e escolher como expressar isso com clareza e respeito.
Ou então, você ouve um feedback duro, mas acolhe a informação, filtra o que faz sentido e responde com maturidade. Em vez de insistir na sua ideia por vaidade, você escuta de verdade a objeção do outro e encontra um caminho conjunto.
Quando você chega estressado por causa do trânsito, em vez de deixar o estresse acabar com o dia, você aprende a regular seu estado interno e zera a tensão antes de entrar no escritório.
Desenvolver essa competência é fundamental para navegar dentro da empresa, não só do ponto de vista individual mas principalmente pelo lado das relações — a famosa politicagem.
Isso faz diferença não só para ser promovido, mas para ter mais saúde, confiança e impacto.
Os Quatro Blocos
A Inteligência Emocional pode ser compreendida em quatro domínios principais.
Cada domínio atua como uma engrenagem que, quando bem trabalhada, sustenta o desempenho de qualquer profissional:
Autoconsciência (Reconhecer - em si mesmo)
É aqui que tudo começa, funcionando como uma base que sustenta todas as outras competências: a capacidade de reconhecer e entender os próprios sentimentos, pensamentos e reações.
Sem autoconsciência, não há como evoluir para qualquer outra habilidade emocional.
Uma pessoa autoconsciente sabe o que sente, entende o que desencadeia suas emoções e reconhece o impacto disso sobre os outros.
No cotidiano, se manifesta em refletir e nomear conscientemente as emoções e na percepção de padrões de comportamento recorrentes.
Pessoas com alta autoconsciência sabem que o incômodo com a “brincadeira” do colega não vem do tom leve, mas porque já ouviram aquilo em outros contextos e internalizaram como crítica.
Autogestão (Regular - em si mesmo)
Baseada na autoconsciência, a autogestão é a habilidade de transformar o que você sente em uma ação mais útil. Quando a emoção não te domina, mas também não é abafada.
Isso significa reconhecer um estado interno e deliberadamente escolher como responder. Não de forma automática, reativa, nem impulsiva, mas estratégica.
O que de fora pode parecer frieza, por dentro é autocontrole: a capacidade de dar forma lúcida a um sentimento bruto.
Isso envolve equilíbrio emocional, adaptabilidade, senso de realização e positividade.
Na prática é o analista que mantém a entrega sob pressão sem se desesperar.
Ou também, é aquela pessoa que, diante da frustração, não minimiza o que sente, mas redireciona a energia para o que ainda está sob seu controle.
No fim, são essas microescolhas que formam o que o mercado chama de “resiliência”, “garra” ou “agilidade emocional”.
Consciência Social (Reconhecer - nos outros)
Consciência social é a habilidade de captar o que está acontecendo com os outros, mesmo quando ninguém diz nada. É a leitura de emoções alheias, ambientes tensos, e dinâmicas de bastidor.
Esse domínio se divide em duas grandes competências: empatia e consciência organizacional.
Empatia aqui não é só “se colocar no lugar do outro”.
Trata-se de ler o silêncio de alguém que foi interrompido três vezes numa reunião ou de perceber o incômodo nas entrelinhas de uma mensagem e ajustar seu tom sem que ninguém precise pedir.
E quanto maior sua autoconsciência e autogestão, maior sua capacidade de perceber o que se passa com os outros. Quem não lê a si mesmo, tende a projetar ou ignorar o outro.
Já a consciência organizacional é leitura de sistema, a famosa politicagem. É entender as estruturas de poder, onde estão as resistências ou quem realmente influencia o que.
Assim fica fácil de entender as dinâmicas que moldam decisões, reputações e oportunidades.
Por exemplo, perceber que uma piada solta em reunião pode custar confiança semanas depois; reconhecer que a ausência de alguém num convite não foi aleatória; saber quando recuar, quando chamar para perto, quando deixar acontecer.
Quem tem consciência social navega pelas arenas políticas estrategicamente e entende que politicagem é mais como tabuleiro de xadrez do que mera bajulação.
Gestão de Relacionamentos (Regular - nos outros)
Aqui estamos na última engrenagem. Com a gestão de relacionamentos a Inteligência Emocional deixa de ser uma questão interna e vira competência coletiva.
É a capacidade de evitar que um conflito vire um confronto, alinhar o jogo sem precisar passar pano, e seguir colaborando mesmo quando o clima aperta.
Essa competência aparece nos momentos em que o clima fica tenso: você quer pedir um aumento, precisa dar um feedback duro ou até quando precisa influenciar sem recorrer a colocar o chefe em cópia.
Quando a autoconsciência e a autogestão te ajudam a se entender.
A consciência social te dá empatia e entendimento organizacional para saber onde pisar. A gestão de relacionamentos vai servir para colocar tudo isso em prática de forma certeira.
Por exemplo, no caso do líder que chama pra conversar antes que o problema escale; o analista que modula o tom pra convencer sem se impor; ou até você negociando um aumento ou promoção pois vem acumulando várias responsabilidades.
Quando bem dominada, essa competência te ajuda a navegar pelas arenas políticas sem dar carteirada.
Por que aprender sobre IE?
Não bastassem os motivos e exemplos citados acima, aprender sobre Inteligência Emocional e desenvolver suas competências te dá segurança emocional diante do imprevisível.
No mundo corporativo as competências técnicas te levam até certo ponto.
A partir daí saber lidar com o que se sente, e com o que os outros se sentem, se torna uma vantagem competitiva — afinal não somos robôs.
Geralmente, esse tema entra na nossa vida por conta de um treinamento de RH.
A empresa vê vantagens em ter colaboradores que dominem essas competências — geram menos ruído, colaboram melhor e entregam mais.
Seja na linha de produção ou nos escritórios, a maioria dos processos envolvem pessoas.
Ao contrário de máquinas, nós possuímos emoções, o que gera uma certa imprevisibilidade nos resultados.
Profissionais com boa inteligência emocional performam melhor. Lidam melhor com o estresse, adaptam-se mais rápido a mudanças, colaboram com mais qualidade e contribuem para um clima organizacional mais produtivo.
No entanto, vejo que esse é o tipo de aprendizado que possui mais benefícios para o empregado do que para a empresa.
Do lado dos profissionais, a Inteligência Emocional é ferramenta estratégica de diferenciação no mercado de trabalho e, acima de tudo, possui impactos positivos também na vida pessoal.
Quando bem aplicada, ajuda a ler melhor os jogos de poder, modular o discurso para cada público e gerar influência sem recorrer à autoridade formal.
Em outras palavras: não basta entregar. É preciso saber sustentar relacionamentos, comunicar com clareza e não surtar mesmo sob pressão.
Quem desenvolve isso, cresce mais rápido e acelera a carreira com menos desgaste.
Não por acaso, profissionais com alta IE começam a ser buscados não só por currículo, mas por postura e comportamento.
No âmbito pessoal, ela melhora conversas em casa e com amigos, reduz atrito com quem a gente ama e ajuda a identificar gatilhos emocionais antes que eles virem briga.
Quem desenvolve essa habilidade aprende a falar o que precisa sem machucar, escutar sem carregar tudo pra si e se preservar sem acabar com relações.
Próximos passos
Como esse é o primeiro texto dessa série, meu objetivo é trazer alguns motivos para se aprofundar nesse tema e te fazer perceber que não se trata de um talento inato.
Inteligência Emocional é uma habilidade, e como toda habilidade, pode ser aprendida, praticada, refinada.
Só que quando a questão fica tensa, ou estamos sob pressão, fica difícil pensar em tudo isso.
A teoria faz parecer tudo simples, mas na prática a situação muda, por isso precisamos treiná-la até que esse comportamento fique automático.
É aí que entra essa série.
Um espaço para destrinchar os fundamentos da IE e ajudar você a entender como essa competência se manifesta e se desenvolve no dia a dia.
Cada episódio será dedicado a um dos quatro grandes blocos da IE.
A estrutura será simples e prática: entender o conceito, aprofundar com exemplos, aplicar no cotidiano e mostrar alternativas para praticar e desenvolver com consistência.
E se em algum momento deste texto você se identificou com alguma situação, atitude ou comportamento... ótimo. Esse é o ponto de partida.
Inteligência emocional começa quando a gente para de justificar a impulsividade como “jeito de ser” e começa a assumir que pode responder melhor, com mais clareza e menos ruído.
É isso que essa série vai buscar: te dar ferramentas para reagir menos no automático e agir mais com propósito.
Se quiser dividir sua experiência ou mandar uma pergunta, estou aqui. A escuta vem antes da resposta e isso vale aqui também.
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