4 Reuniões que você deveria ter na sua agenda se quiser crescer
Um guia prático para líderes e liderados com as principais reuniões que deveriam estar na agenda de todo mundo que busca por crescimento de carreira de forma consistente.
O começo de tudo: puxando conversa com quem não tinha tempo
Trabalhando com o CEO: Logo no meu primeiro ano de trabalho, por uma oportunidade interna, fui designado para atuar em projetos diretamente com o CEO.
Ele havia acabado de chegar na empresa, era americano e estava lidando com muitos problemas. Precisava de um time dedicado para alguns projetos estratégicos. Como eu era trainee e havia acabado de apresentar meu projeto final, acabei sendo escolhido para trabalhar com ele.
Uma baita experiência: trabalhar diretamente com o CEO. Mas a idealização é bem diferente da prática. Logo na primeira semana percebi que era muito difícil falar com ele. Ele raramente vinha nos procurar, porque sempre havia outros incêndios para apagar.
Só que naquele momento da carreira, eu precisava de orientação — tanto sobre as entregas dos projetos quanto sobre desenvolvimento profissional.
Com os projetos começando a travar, por falta de feedbacks e direcionamento, comecei a me preocupar. Estava sem rumo naquela posição e a data de entrega se aproximava. Não poderia correr o risco de apresentar algo atrasado ou fora do que ele esperava.
Foi então que, com um pouco de receio, pedi à secretária para agendar um horário com ele. Para minha surpresa, foi mais simples do que imaginei — mesmo que o horário disponível fosse só dali a duas semanas.
Foi assim que comecei um hábito que fez toda a diferença na minha rotina: ter a proatividade de buscar conversas com meu gestor, que no caso era o CEO.
Eu propunha uma agenda quinzenal, ou pelo menos mensal, para conversar com ele. Não era só para atualizar as entregas. Era para falar sobre desenvolvimento, planos futuros, crescimento. E ele sempre topava. Afinal, mesmo com a agenda corrida de um CEO, ele era meu gestor direto.
Com esse hábito, fui uma das pessoas que mais conseguiu ter conversas recorrentes com ele. Esses encontros não estavam na agenda dele por padrão — fui eu quem criou esse espaço.
Com o tempo, essa cadência virou vínculo. E esse vínculo virou oportunidade. Ele passou a entender melhor minhas entregas, meu potencial e, principalmente, minhas ambições de carreira.
Inclusive, 7 anos depois, acabei voltando a trabalhar com ele — mas, dessa vez, já na posição de executivo, reportando diretamente a quem um dia foi meu gestor lá no começo da jornada.
Assim, eu percebi na prática, o poder de ter uma agenda bloqueada com conversas sobre carreira. Mesmo quando o outro lado não tem tempo. Porque quem quer crescer precisa criar espaço para isso acontecer.
Então, vamos ali pegar um café? Porque hoje, no Conversas no Corredor, quero te mostrar os quatro tipos de reunião que sempre estiveram na minha agenda — seja como líder ou como liderado.
A lógica por trás das conversas que impulsionam carreiras
Se você deseja crescer — seja assumindo mais responsabilidade, mudando de área, recebendo uma promoção ou ajustando seu escopo — precisa entender como esse processo acontece nas empresas. Não basta fazer bem o seu trabalho. É sobre ser visto, ter conversas certas, e mostrar pra onde você quer ir. E boa parte disso acontece nas trocas com sua liderança.
Não dá para esperar o RH ou o gestor virem puxar assunto. Se você quer evoluir, precisa tomar as rédeas e colocar isso no papel — ou na agenda.
Quem quer ser promovido precisa ter um plano e saber contar essa história. Quem quer ganhar mais, precisa mostrar onde está gerando valor — e onde pode gerar ainda mais. Isso não vem com o tempo, vem com clareza e conversa constante.
E olha: muita gente boa acaba estagnada por não ter esse tipo de conversa com frequência. Fica refém de avaliação de fim de ano ou daqueles feedbacks genéricos que mais confundem do que ajudam. Resultado? Perdem o timing. Ficam no mesmo lugar.
Para se aprofundar nesse tema, recomendo a leitura dessa publicação do Convesas no Corredor:
Criar um ritmo de conversas reais com sua liderança é um dos maiores diferenciais que você pode ter na sua carreira. E a melhor parte: dá pra começar agora.
A cultura do "vamos marcar depois"
Você já deve ter vivido isso: seu gestor fala "vamos marcar um 1:1" e nunca marca. Vai adiando porque apareceu outra entrega, outra call urgente, mais um problema pra apagar.
E aí, sem perceber, você fica esperando e coloca todo mundo como prioridade — menos você.
Quando a gente deixa pra depois, essas conversas sobre carreira, a gente dá espaço pro automático. E o automático raramente leva pra lugares novos.
Tem uma coisa que é importante lembrar: se você não fala sobre seus planos, seu gestor não vai adivinhar. E se ele não sabe, ele também não vai mexer os pauzinhos pra abrir portas. Falo muito disso aqui no Conversas no Corredor.
Por isso, tenha proatividade de colocar sua carreira na agenda. Não espere somente os ciclos anuais de avaliação de desempenho para tentar trazer a tona em uma conversa rápida de uma hora, detalhes importantes e conselhos que fariam a diferença para sua carreira.
Assim como você faz reunião pra acompanhar entrega, faça reunião pra acompanhar sua trajetória.
Por que rotinas estruturadas fazem diferença
Desenvolver uma habilidade ou buscar uma promoção não é muito diferente de tocar um projeto. Você tem um objetivo, um ponto de partida e um plano de ação. Só que no caso da carreira, muita gente vai no improviso — e aí fica mais difícil medir o progresso.
Com cadência, as coisas mudam de figura. Você começa a ver resultado, sabe onde ajustar e ganha até mais confiança pra falar sobre o que quer e mudar a trajetória.
Essas conversas viram evidência. Você consegue mostrar que está se desenvolvendo, que está aprendendo, que está pronto. E isso tem muito mais peso do que apenas dizer “quero ser promovido”. Ajudam muito quando chega a hora da reunião anual de avaliação de desempenho.
Aliás, vale um parêntese aqui: desempenho e potencial são coisas diferentes. Você pode estar entregando super bem, mas se não mostra potencial de crescimento — como visão ampla, adaptabilidade, liderança — dificilmente será considerado pra dar um próximo passo. As conversas certas ajudam a trabalhar esse outro lado.
Foi por isso que, ao longo do tempo, amadureci meu estilo de gestão e passei a usar 4 tipos de reuniões diferentes, tanto para mim como para meu time. Cada uma com um foco e um papel claro. E posso dizer que isso fez uma baita diferença — tanto pra mim quanto pro meu time.
As 4 reuniões que fazem a diferença
1. Radar Semanal (Check-in Operacional)
Frequência: semanal ou quinzenal
Duração: 30-60 minutos
Quem participa: gestor e colaborador (ou o time todo)
Essa é a reunião do dia a dia. A gente fala sobre as entregas da semana, o que travou, o que precisa mudar. É rápida, direta, e ajuda a manter todo mundo na mesma página.
Aqui, dependendo da especificidade do time, podem ser individuais ou em grupo. Mas lembre-se esse não é o espaço pra falar de carreira ou desenvolvimento pessoal. O foco aqui é garantir que a roda está girando.
Se houverem feedbacks serão operacionais, quanto a entregas e ajustes que precisam ser feitos para atingir o objetivo da área ou da função.
2. Bússola de Carreira (Desenvolvimento Individual)
Frequência: mensal ou bimestral
Duração: 60 minutos
Quem participa: gestor e colaborador
Esse é o momento de olhar pra trajetória de carreira. Pode ser sobre uma promoção, transição de área, uma nova responsabilidade, uma habilidade que a pessoa quer desenvolver, ou até sobre o que ela quer pra daqui 2 anos.
Um ponto importante aqui: não estamos falando de conversa solta ou motivacional. Estamos falando de estrutura. Há modelos que ajudam muito nesse processo. O modelo GROW, por exemplo, é bem conhecido, ele organiza bem esse tipo de papo.
Primeiro, você define o objetivo (Goal), entende onde está hoje (Reality), explora opções (Options) e combina os próximos passos (Will). Simples, prático e direto.
Dá pra usar esse modelo como guia dessas conversas: Onde você quer chegar? Onde está hoje? O que dá pra fazer? E o que você vai fazer agora?
Aqui nessas conversas tem espaço para elaborar e acompanhar um Plano de Desenvolvimento Individual, o famoso PDI.
E mais importante: revisite essa conversa. Veja se o plano tá andando. Isso ajuda muito a manter a motivação e ajustar o que for preciso no caminho.
Atenção: não adie essas conversas, e precisar mudar o dia ou horário, então remarque o quanto antes. Carreiras devem ficam em primeiro plano, assim como entregas urgentes.
3. Espelho Trimestral (Feedback Estruturado)
Frequência: a cada trimestre ou semestre
Duração: 60 minutos
Quem participa: gestor e colaborador
Aqui a gente senta pra olhar pra trás com lupa. Fala sobre comportamento, resultado, postura, relação com o time, com clientes. Não é só o que foi entregue — é como foi entregue. O famoso Feedback.
Essa reunião é importante pra fazer alinhamentos finos. Às vezes a gente acha que está indo super bem, mas tem pontos que precisam de ajuste. Ou estamos nos cobrando demais sem motivo. Um bom feedback ajuda a calibrar a percepção e dar segurança.
Atenção: Essas conversas ajudam a estruturar as reuniões anuais de avaliação de desempenho. Não pense que feedback é só a cada 3 meses. Feedback é dado e recebido o quanto antes. Não espere esses momentos para consolidar ou receber todos feedbacks, alguns detalhes menores passam despercebidos e nessas reuniões os ajustes são mais amplos.
Se quiser uma estrutura simples, dá pra usar o modelo SCI (Situação, Comportamento, Impacto). Tipo: “Na situação X, você agiu de tal forma, e isso teve esse impacto.” Isso ajuda a tirar o julgamento e focar no fato.
E vale lembrar: esse também é o momento pra você, como líder, ouvir feedback sobre sua liderança. Faz parte.
Quer aprender mais sobre feedback!?
4. Retrospectiva de Time (Reflexão Coletiva e Projeção de Futuro)
Frequência: trimestral para revisar o presente e o passado; anual/semestral para pensar no futuro
Duração: 1h30 a 2h (trimestral) / até meio período (anual)
Quem participa: todo o time
Essa reunião é uma das mais potentes, porque coloca todo mundo pra pensar junto. No formato trimestral, a gente olha o que rolou, onde erramos, onde mandamos bem, e o que precisamos fazer melhor.
Compartilhamos resultados do time ou da empresa, ações coletivas e tiramos idéias de forma colaborativa sobre o que tem funcionado ou não.
Na versão anual, a ideia é olhar pra frente. Fazer planos, traçar metas, revisar a estratégia do time. E o mais legal é que isso não precisa ser engessado. Pode ter mural, roda de conversa, dinâmica. O que importa é ter um espaço pra que o time fale — e se escute.
Nas minhas reuniões anuais com o time, eu fazia uma agenda com team building, apresentação de resultados, novas metas e projetos para o próximo ano/período e por fim um mini workshop para elaborar o plano estratégico de cada área ao nível de projetos individuais.
Quer saber mais sobre planejamento estratégico e como estabelecer metas para o próximo ciclo:
O que muda na prática?
Quando você estrutura sua rotina com esses encontros, a percepção muda — tanto da sua parte quanto do time.
As entregas ficam mais claras. As pessoas se sentem valorizadas, entendem o rumo da própria carreira, têm um canal para se expressar e ouvir. O líder deixa de atuar apenas na urgência e passa a liderar de forma estratégica. O colaborador ganha mais confiança e clareza sobre seus próximos passos.
Você reduz ruído, fortalece vínculos e ganha tempo — mesmo tendo a impressão de que está "gastando" tempo em reuniões. No médio prazo, tudo flui melhor: menos retrabalho, mais alinhamento, menos ansiedade, mais protagonismo.
Pra fechar: sua agenda mostra o que você valoriza
Dá uma olhada na sua agenda agora. Tem espaço pra essas conversas? Ou está só preenchida com reuniões operacionais?
Se não há espaço para conversas de desenvolvimento, talvez seja hora de reequilibrar as prioridades. Comece pequeno: marque sua próxima Bússola de Carreira com seu gestor ou faça o mesmo com seu time (se for lider). Reforce a importância dos encontros semanais de check-in.
Ah, e se quiser uma ajuda prática: aqui vai uma sugestão de frequência mínima pra começar a organizar sua rotina:
Radar Semanal: toda semana ou a cada 15 dias
Bússola de Carreira: 1x por mês ou a cada 2 meses
Espelho Trimestral: 4x por ano
Retrospectiva de Time: 3x ao ano, sendo 1 delas voltada ao futuro
Sua carreira é um projeto e você é o gestor dele. Como em qualquer projeto relevante, se você não acompanha, não mede e não conversa sobre ele com frequência, dificilmente vai chegar onde quer.
Conheça mais sobre o Conversas no Corredor
Criei essa newsletter para falar sobre temas do mundo corporativo que todo CLT deveria aprender. São aquelas conversas que eu gostaria de ter tido com meus gestores ao longo da minha carreira—insights que fazem a diferença, mas que nem sempre surgem em reuniões ou treinamentos formais.
Por isso, chamei de Conversas no Corredor: aprendizados que acontecem naquele papo despretensioso enquanto tomamos um café.
Se quiser acompanhar, já pega o seu café e vem comigo! 🔥💼
Se liga nesse texto também:
Ser um Puxa-Saco pode te promover
·Se tem uma coisa que todo mundo detesta no trabalho, é o puxa-saco. Aquele que elogia o chefe descaradamente, faz tudo para agradar e parece se dar bem sem precisar entregar muito. Mas e se eu te dissesse que ser puxa-saco pode, sim, te promover? Não daquele jeito óbvio e irritante, mas de forma estratégica e inteligente.